✟Tumbas de Aquarela✟ Entrevista com o artista Luc Venturim

 



Por Bira L. Silva 

Desde os tempos Luiza Fria, época em que o deathrock encontrava seu foco em ascensão no brasil, ouvimos falar deste talentoso artista brasiliense, cujas expressões abarcam o campo da música, poesia, desenho e pintura. Luc Venturim está aqui hoje entre nossas Tumbas de Aquarela para falar um pouco sobre seu trabalho.

Tumbas de Aquarela:  Olá, Luc! Agradeço sua presença! Há muito tempo ouço falar de você e de seus trabalhos na cena alternativa nacional, parabéns pelos anos de estrada. Você poderia nos contar um pouco sobre como e quando começou sua vida como artista underground?

Luc Venturim: Olá, Bira! Obrigado, e agradeço pelo convite! E aliás, belo e criativo nome do zine, hein! Respondendo à pergunta, sempre fui apaixonado por música, artes plásticas e literatura. Na música, comecei a ter bandas em 2005, em estilos rock oitentista/punk, post punk, coldwave, tocando baixo ou guitarra, algo de vocal. Em 2007, junto às minhas amigas Yael Seixas e Kel Kill, fundamos a banda Luiza Fria. Também passei por outras bandas, Rosa dos Ventos, Banda Invisível (num quase revival), Lunar Dream, e hoje desenvolvo um trabalho na Vox Lugosi, como vocalista. Nas artes plásticas, desenho e amo arte desde pequeno, em 2011 comecei a desenvolver um trabalho de pintura, trabalhando como pintor até 2017, ano que comecei a trabalhar como tatuador. Também escrevo poesia – que por enquanto é uma atividade mais pessoal, ainda não divulguei nada, pretendo lançar algo futuramente. Parece muita coisa, mas não faço tudo ao mesmo tempo, tudo é desenvolvido e alternado ao longo do tempo. 




Tumbas de Aquarela: Luiza Fria foi um projeto de importância incalculável para o Deathrock no Brasil.  Como era seu trabalho na banda? Quais as principais diferenças que você percebe no público underground daquela época e o de hoje em dia?

Luc Venturim: Luiza Fria foi um projeto bastante divertido, que teve uma boa repercussão, e no qual pude amadurecer bastante como músico e artista. Meu trabalho consistiu em escrever algumas letras, compôr músicas, criação das artes e logotipo, concepção de figurinos, mídias sociais... E eu alternava as funções de guitarra e baixo com a Yael a depender da música, era cômico fazer isso no meio do show hahaha. Quanto às diferenças no público de antes e de hoje, vejo algumas, tanto positivas como negativas. Visual e estética mais elaborados... Menos interesse em ter conhecimento e conteúdo (história musical e das bandas, literatura, arte)... Mais engajamento político... Eventos mais gourmetizados (preços abusivos)... Acho que há mais pessoas na cena (devido à popularização e facilidade de acesso)... Porém menos presença nos eventos... Enfim, rende longos e bons papos! Mas voltando à Luiza Fria, quero dizer que há a possibilidade de fazermos uns shows revival após a pandemia, em Brasília e em SP. Aguardem as novidades no Facebook e Instagram da banda!



Tumbas de Aquarela:  Como admirador e como alguém que acompanha seus trabalhos, eu percebo também que você é um artista plástico visual muito intenso. O que te inspira a pintar? Quais são suas influências artísticas no campo da pintura? Nos conte alguns dos temas de suas telas e quais técnicas você costuma, ou não, abordar.

Luc Venturim: Foi um ofício bastante intenso entre 2011 e 2017. Hoje, como preciso me dedicar ao trabalho de tattoo, eu pinto mais esporadicamente, mas a paixão permanece. Inspiram-me os sentimentos, a natureza, as mensagens numinosas dos sonhos. Não sou nem quero ser um artista acadêmico nem conceitual; elaborações mentais são importantes, mas minha conceituação é simples e essencial e a verdade que busco conhecer e imprimir esteticamente se dá mais por meio do contato com a alma – intuições e sentimentos, bem como a parte mais sublimada dos sentidos físicos, diante do mundo. Nesse sentido, uma enorme influência minha nesse mergulho vem do trabalho do psicólogo Carl Gustav Jung. Plasticamente falando, a arte do Simbolismo, Impressionismo, Pós-impressionismo, Expressionismo, Fauvismo. Temas recorrentes são elementos da natureza e a “musa interior” ou anima segundo a teoria de Jung e demais arquétipos. Geralmente uso pintura com tinta acrílica e às vezes outros materiais como aquarela, tinta óleo, giz pastel seco, algo de colagem dentro da pintura.






Tumbas de Aquarela: Vox Lugosi é o projeto mais recente no qual você está envolvido, como funcionou esta volta aos palcos? Nos conte um pouco sobre esse novo projeto e sobre o álbum Ética Nova.

Luc Venturim: Deu-se por uma junção entre cinco personalidades. Temos influências em comum e influências diferentes e acho que isso faz a química. A linha-guia do estilo é o post punk, mas com outras influências como o gothic rock, deathrock, rock psicodélico 60’s e 70’s, new wave, new romantic... A volta aos palcos pra mim tem sido emocionante e gratificante, com uma nova visão de mundo (tou mais véio hahaha) e ao lado de antigos e novos colegas de banda (Felipe Rodrigues, Yael Seixas, Miguel Ruffo, Rubens Cardoso). Pessoalmente, bastante desafiador, já que é a primeira vez que assumo os vocais. A criação e desenvolvimento das músicas do novo álbum começou com um pressentimento de toda essa grave crise política e ética que nosso país e o mundo enfrentam, e foi acompanhando os dramas e tragédias durante e após as eleições. Tem esse viés crítico, mas não de maneira panfletária e, antes de mais, nada fala da necessidade da transformação do próprio indivíduo, olhar pra dentro e mudar, como pré-requisito pra mudanças externas. Musicalmente, muita influência dos clássicos post punk e certamente um quê de rock/post punk de Brasília (e do Brasil) dos anos 80. Vocês podem ouvir o EP da Vox Lugosi no Spotify, Deezer ou pelo link que passarei no final da entrevista.





Tumbas de Aquarela: Além de músico e pintor, vemos que você também trabalha como tatuador. Nos conte um pouco deste processo com os desenhos na pele. Como você se sentiu quando fez sua primeira tatuagem em alguém? E qual foi a tatuagem que você realizou que mais te deixou orgulhoso?

Luc venturim: Após a fase da pintura, aprendi a tatuar, tarefa que tem o desenho como base, mas é todo um aprendizado diferente, com outras ferramentas, outras técnicas, outro suporte (no caso, a pele), além dos conhecimentos essenciais sobre biossegurança. Na primeira tatuagem que fiz, eu senti confiança, mas com bastante atenção e prudência, procurando aplicar os conhecimentos estudados e praticados, porque é uma responsabilidade com o corpo e imagem da outra pessoa. E fiquei contente ao ver o trabalho pronto, afinal é uma conquista e realização... Mas lógico, foi o primeiro passo, e ainda estou em meu segundo ano de ofício e isso é só o começo, há uma longa jornada adiante com muito aprendizado por vir. A tatuagem que mais me senti orgulhoso e que gostei foi uma que fiz no meu próprio braço, a imagem é uma versão da pintura “O Tango do Arcanjo” do pintor holandês Kees Van Dongen.





Tumbas de Aquarela:  Como alguém que atua na cena já há longas datas, quais os principais  pontos positivos e negativos que você percebe no atual cenário underground?

Luc Venturim: Além dos pontos que falei anteriormente, vejo o seguinte. Há mais recursos e acesso a recursos técnicos para realizar certas coisas (acesso à informação, montar banda, gravar músicas, realizar projetos), por outro lado, há às vezes certa apatia, gostaria que as pessoas tivessem mais garra, vontade de criar, se interessassem mais em conteúdos e fizessem isso de maneira mais profunda e consistente. Rola os problemas éticos também, de preconceitos, abusos, enfim, ser humano sendo ser humano em seu lado ruim. Também vejo que existe conflitos e divergências entre as gerações, coisa que sempre existiu, mas talvez tenha se acentuado. Daí a necessidade de uma humildade maior de ambas as partes, em um aprendizado mútuo no qual a cena só teria a ganhar.



Tumbas de Aquarela:  Grato pela sua participação, Luc. Vida longa a você e a sua arte. Deixe um recado para os nossos leitores.

Luc Venturim: Muito obrigado pelo convite e o espaço, Bira, desejo igualmente vida longa a você, sua arte e ao zine! A você e aos leitores, muita fé, amor, força e arte nessa época turbulenta.

Quem se interessar em ver o trabalho que faço, deixo abaixo os links.

Vox Lugosi:
https://facebook.com/voxlugosiband
@voxlugosiband
https://tudomudamusic.bandcamp.com/album/tica-nova
Também no Spotify e Deezer

Tattoo:
https://facebook.com/lucventurimtattoo
@lucventurimtattoo

Pinturas:
https://facebook.com/arteventurim

Luiza Fria:
https://facebook.com/luizafriaband
@luizafriaband

Letras Góticas Traduzidas:
https://www.facebook.com/letrasgoticastraduzidas



Comentários

  1. Parabéns ao entrevistador e ao entrevistado por desenvolverem os assuntos de forma tão pertinente.

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