✟Tumbas de Aquarela✟ Augusto Batcave, de Manaus, fala sobre Misfortune Deep e Lost Lenore.

 Por Bira L. Silva 




2020 passou deixando muitas mensagens. Um ano de aprendizados, e também de profundas cicatrizes.

A arte emergiu em meio ao caos e ao inevitável isolamento imposto por este ano. Emergiu, desta vez,  sob novas e mais variadas adversidades. Emergiu do esforço e da resposta imediata do artista ao cenário de queda. Em 2020, a arte emergiu para curar a todos nós, de novo, e uma vez mais.

Hoje, entre as Tumbas de Aquarela, está o artista Augusto Batcave, de Manaus, nos contando sobre mais dois projetos que nasceram na tempestade e conseguiram se manter profundamente vivos: Misfortune Deep e Lost Lenore

Misfortune Deep é um projeto independente, formado em meados de março de 2020, bem no início da pandemia, na cidade de Manaus - AM. A formação atual da banda conta com Lanna Areque (que assumiu os vocais após a saída do ex integrante Sharles Shaiel), Augusto Batcave e Roberth Fernandes. O som é um verdadeiro paraíso para quem curte a junção de sintetizadores oníricos, baixos e guitarras introspectivas,  e vocais intensos. 




✟Tumbas de Aquarela✟: Olá, Augusto! Para começar, por favor, nos conte um pouco sobre a Misfortune Deep.

Augusto Batcave: Então querido, saudações! A Misfortune Deep é um projeto com características Lo-fi que produz, de forma independente, canções que variam entre muitas influências da banda. Sempre classificamos o projeto como Synthpop, Coldwave, mas sabemos que vai muito além disso! O projeto nasceu de uma paixão particular minha e de Sharles Shaiel (ex vocalista da banda). Estávamos com planos de gravar nosso primeiro EP em um antigo projeto chamado StranhO, mas nas proximidades do dia da gravação tivemos uma intervenção de um ex membro daquele projeto, reivindicando autoria de música. A partir daquele momento eu e Sharles decidimos encerrar aquele projeto, e construir um totalmente novo, com nova cara, características,  diferente de tudo que tínhamos feito! Sharles sempre foi apaixonado por Depeche Mode e Cold Cave,  assim como eu tinha paixão também por essas bandas e outras de nossa influência. Os sintetizadores sempre me encantaram, isso fundiu junto a forte influência de Sharles por bandas da década de 80 , então decidimos fazer Synthpop, uma grande paixão nossa. Mas não era só isso, sabíamos das dificuldades que enfrentaríamos, sem produtores, sem grana para investir, como moramos no subúrbio de Manaus. Desempregados, metemos a cara sem saber onde ia dar! Sempre encontramos um certo bloqueio em conseguir um espaço no cenário, pois sempre notamos um padrão no eixo Rio - São Paulo,  então esse também era um desafio que tínhamos que enfrentar, arregaçamos as mangas e seguimos!

Em março desse ano lançamos nossa primeira demo " Outta Here ", desde então eu e Sharles passamos as nos reunir para compor,  atravessando madrugadas,  sonhando, expondo ideias, fizemos muitos rascunhos de canções,  com isso eu via que se colocássemos aquelas canções em prática com uma boa produção,  elas poderiam ser bem aceitas pelo público, e dessa forma nós conseguirmos um espaço nem que fosse minúsculo na música underground brasileira!




✟Tumbas de Aquarela✟: Vi que a banda sofreu uma mudança de formação. Quando e como ocorreu essa mudança? 

Augusto Batcave: Quando lançamos a demo, percebemos que ela havia sido bem aceita. Recebemos diversas mensagens, inclusive de produtores para nos produzir (porém nenhuma proposta se concretizou). Recebemos mensagens de incentivo de nossos amigos de Belém,  naquele momento sabíamos que éramos uma esperança pra tirar de vez o norte da estaca zero em que se encontrava na decadência da música underground! Mais uma vez eu e Sharles fomos a estúdio,  gravamos um segundo single, e entregamos para um produtor, porém o material nunca saiu. Nesse mesmo período, Sharles descobriu alguns problemas de saúde muito sérios,  e decidiu se isolar de vez, não querendo então contato com o mundo lá fora. A música em questão até então era Do You Want. 

Neste período sem o Sharles, não sabia o que seria do projeto. Até então minha função na banda sempre foi trabalhar os sintetizadores,  mas não sabia como produzir, mixar , masterizar, então era a dificuldade maior ainda que tive que enfrentar! Vendo o fim, decidi lançar duas faixas do projeto na voz do Sharles,  uma dessas faixas era uma nova versão da "Outta Here ", portanto esse material acabou sendo muito criticado.  Sem saída,  decidi remover o material das plataformas e encerrar o projeto (mas não era momento). Quando de repente em uma tarde pensando muito sobre o que faria, lembrei da Lanna e seu sonho de cantar!

Depois de muitos dias em prantos, lágrimas,  finalmente ressurgiu uma esperança para o projeto, fiz um convite por ligação para Lanna fazer um experimento, ela topou na hora, então regravamos a Do You Want,  que em ocasião tive mais como uma homenagem a Sharles pelo momento difícil que atravessava!

Com a nova formatação da banda, convidei também o Roberth Fernades, da qual já havíamos trabalhado antes na StranhO,  e ele também já era conhecido por aqui por ter feito parte da banda de Post Punk Alma Nômade.

Sendo assim, então,  a banda se reestruturou novamente, Lanna deu vida com sua forte voz ao projeto, e então iniciamos a jornada do primeiro EP que lançaríamos uma faixa mensal.




Tumbas de Aquarela: Uma linda história! Eu sou um grande fã do trabalho de vocês. E como a banda está neste momento? Quais são os planos para 2021? 

Augusto Batcave: A Misfortune Deep hoje tem uma nova cara, novos músicos,  e uma qualidade melhor. Pela falta de produtor, precisei estudar um pouco de produção e mixagem para fazer nossos próprios trabalhos. Chegamos até contatar grandes produtores, mas devido às dificuldades financeiras, não tínhamos como pagar o valor de cada produção de mercado. Recentemente, após o último single, a banda decidiu pausar para reestruturar a música. O projeto ganhou uma qualidade tão boa que passamos a ser cobrados por uma produção melhor, então decidimos procurar novamente um produtor e mestre, para organizar melhor nossas músicas,  pois vimos então que a qualidade realmente merece uma boa produção! O EP ainda seguirá,  mas acredito que virá os restantes das faixas todas de uma vez. Por enquanto, aos queridos amigos que nos ouvem, só resta aguardar um pouquinho, pois virá muita coisa legal pela frente!





Tumbas de Aquarela: A lindíssima e recente Lost Lenore, formada por você e pela Bianka Tarolla (Bianca, se estiver lendo isso: Parabéns, você canta MUITO!) foi fundado em outubro de 2020 e, em pouco tempo de vida, conseguiu uma enorme e merecida projeção. Fale um pouco sobre esse projeto.

Augusto Batcave: Quanto a Lost Lenore, nossa! Projeto incrível que estou super apaixonado! Nossa história basicamente se iniciou de uma forma meio que engraçada... certo dia, vendo o status de um amigo que conheci em Boa Vista, vi a Bianka cantando em uma banda chamada New Wavers, lá de Roraima. Achei lindo a voz dela, e respondi o status dele falando o quanto gostei. De imediato ele me respondeu falando de seus sonhos em cantar em uma banda do estilo, fazer autoral, aí como sempre tive muitas ideias na cabeça, falei pra ele que gostaria de conhecê-la e fazer uma proposta a ela! Em questão de dias conversamos, logo mandei algumas amostras que fiz, e para minha surpresa, ela me mandou depois amostras dela cantando dentro das minhas amostras de instrumentais! Então vimos que ia sair algo de verdade mesmo, ela já tinha em mente o nome do projeto,  estrutura de voz, gênero que preferia trabalhar, deixei que ela decidisse tudo, fiquei na parte de produção,  sintetizadores,  teclados, e assim passamos a trabalhar à distância! Eu e Bianka temos uma boa conexão musical, ela na verdade é uma artista completa, isso fez com que o projeto ande! Nosso primeiro single foi o Medo, e essa canção até agora tem me parado e virado do avesso, nem acreditamos que fizemos algo que mexe até com nós mesmos! Temos muitos planos, e nosso próximo single já está digamos 80% pronto, estamos ansiosos para quem sabe lançar ainda este mês.




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