✟Tumbas de Aquarela✟ Ciberpajé e a "Máquina Hiper-Real"

 



✟ Por Bira L. Silva 

Me lembro que quando eu era adolescente, isso há uns 15 anos, eu costumava conhecer muitas bandas através do meu amigo Rafael Cloudwave. Nestas trocas de materiais, que aconteciam até mesmo por correios (o que era normal na época), eu conheci o Posthuman Tantra. 

Me lembro, como se tivesse sido ontem, da sensação de ouvir pela primeira vez a embriagante faixa Homem Vegetal. Era como se sentir entorpecido permanentemente (isso faz 15 anos) pela atmosfera da "Aurora Pós Humana", onde uma voz grave e soturna, cheia de ecos e efeitos, delineavam os arquétipos Homem e Máquina no universo das coisas conectáveis. Essa voz, e esse universo, eram assinados pelo inacreditável múltiplo criador Edgar Franco. 




Ao longo destes anos, tenho visto o artista jorrar no mundo imensas porções de uma arte densa, onírica, audaciosa, e muito, muito rica. A cada trabalho, sempre acompanhado de fantásticas ilustrações criadas pelo mesmo, Edgar, agora com sua persona "Ciberpajé", vem mostrando a progressão do seu universo infinito em mais de 30 Eps lançados (isso mesmo, 30 Eps!) com participações de musicistas e bandas de todo o Brasil, e de mais seis países. 

Essa potência criadora acaba de gestar seu mais novo registro.



 

O EP "Máquina Hiper Real" nos invade com a atmosfera post-rock, delicada, doce, amorosa, que arrasta nossa mente imediatamente para a abstração sombria e profunda. Uma sonoridade bastante peculiar, com sintetizadores e guitarras melancólicas e psicodélicas, fruto da parceira com a musicista do Rio de Janeiro Hari Maia. 



Como um todo, este me pareceu um álbum que fala do amor. Um amor cósmico, grandioso, criativo, profundo, devastador e trágico. "O amor é sempre a meta", nos anuncia o segundo aforismo.

Mas primeiro, a triste e belíssima primeira faixa inunda o espírito com uma melodia angustiante, enquanto o Ciberpajé estimula uma reflexão sobre a justiça, sobre um nível mais elevado de percepção e de justiça entre os seres. "[..] Não existe nenhum julgamento, nenhuma escolha, tudo é o que é, e por ser assim é pura perfeição."




Minha faixa favorita talvez tenha sido a terceira, "Aforismo III - A Lua Esplendorosa", onde as palavras recitadas vigorosamente pela voz poética  nos relembra da solidão amarga e estridente do homem. Essa faixa, não curiosamente, me lembrou também da carta de Tarot A Lua. "Ter alguém para ouvir-nos em momentos de angústia faz uma enorme diferença, mesmo que esse alguém seja a Lua esplendorosa e luminosa, observando-nos em silêncio."



Eu entendi o "Aforismo IV - A Criação Genuína" como um luminoso auto retrato de seu processo criativo. Edgar nos transmite uma mensagem potente e libertadora sobre a criação artística. "[...] por isso quando for criar, desvencilhe-se de todas as teorias, jogue todo o conhecimento prévio no lixo, torne-se puro e inocente como uma criança. Só assim surge a criação genuína."



O EP se encerra de forma amarga. O último aforismo, diferente do IV, não seria um auto retrato, mas um retrato realista ("hiper-real") e muito atual do mundo em que estamos vivendo. "Aforismo V - A Máquina Do Lucro", comenta a decadência humana em razão do dinheiro, a escravização de nossas almas, a robotização dos nossos movimentos e dos nossos sentimentos.  São os "robôs de carne apodrecida" trabalhando em meio à própria morte, em meio à pandemia, gerando lixo, consumo excessivo e desnecessário, porque a "máquina pós-hiper-real do lucro" não pode parar. O final da faixa é simplesmente apocalíptico. 



Você podem conhecer o trabalho em: 

ciberpaje.blogspot.com

harimaia.bandcamp.com

lunarelabel.bandcamp.com


Bandcamp:

https://ciberpaje.bandcamp.com/album/m-quina-hiper-real 

Spotify:

https://open.spotify.com/album/7ywW0AxOB5dCwjA8FM6RhO?si=oiOI5y8PRSOLkp-rnoCYBw



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